Afinal de contas, o que é Gravidade Tonal?

Gravidade Tonal nada mais é que a organização em quintas das doze notas cromáticas do sistema temperado.

Mas por que quintas?

Para isso devemos observar a série harmônica.

Por trás de uma nota, há várias outras, pois a sua vibração faz ressoar outras notas e isso já demonstra como uma nota gera uma força de atração sobre as demais.

Se observarmos o terceiro harmônico, veremos o intervalo de quinta e este é o primeiro intervalo harmônico que define ou que confirma que a Tônica é a nota inferior.

Michael, o que é uma tônica?

Tônica é o nome dado para força de atração que uma nota gera, por isso o intervalo de quinta é importante, pois o segundo harmônico é só uma repetição da fundamental da série.

Bom, então já temos F – C onde Fá puxa Dó ou Fá possui uma força de atração que puxa Dó. Se colocarmos uma quinta acima de Dó, isto é, Sol (F – C – G) veremos que Dó também passa a ser uma Tônica, pois Dó puxa Sol e Fá puxa Dó e por aí vai, ou seja, temos doze notas no sistema temperado que, organizados em quintas, temos um campo magnético onde força sempre flui para baixo.

Isso é a Gravidade Tonal, ela demonstra como uma nota exerce uma força de atração sobre a outra, ou seja, todas as notas são Tônicas, mas há uma Tônica Superior ou Autoridade Tônica Suprema (como Russell diz) que irá representar como uma única nota (Tônica) exerce uma força de atração sobre as demais e para reconhecermos essa Tônica, George Russell demonstra três níveis de Gravidade Tonal:

O Acorde (Nível de Gravidade Tonal Vertical)

A Área de Cadência (Nível de Gravidade Tonal Horizontal)

Um Centro Tonal onde todas as organizações estão presentes em uma única Tônica (Nível de Gravidade Tonal Supravertical)

As forças da Natureza

Esses níveis de Gravidade Tonal são as forças da natureza da música, elas ocorrem simultaneamente e quem vai dizer qual é o Nível de Gravidade Tonal é a melodia.

Nível de Gravidade Tonal é o mesmo que contexto e contexto é a forma de relacionar uma melodia, ou seja, o Nível Vertical é o contexto onde você relaciona uma melodia sobre um acorde e o Nível Horizontal é o contexto onde você relaciona uma melodia sobre uma progressão de acordes.

O Nível Horizontal representa a força ativa, tudo está em constante movimento até chegar na área de cadência. Vosso sistema tonal é exatamente assim.

O Nível Vertical representa a força passiva, pois tudo passa pelo bloco em quintas da Escala Lídia, pois a Escala Lídia e o acorde são uma única coisa, ou seja, o acorde é apenas uma parte da escala. Vosso sistema modal é exatamente assim, porém misturado com o sistema tonal, mas com nomes gregos.

Muitos músicos acham que o modalismo significa ausência de gravidade, mas é por causa da força passiva.

O Nível Supravertical representa a força neutra, ele neutraliza a força ativa e passiva fazendo com que você reconheça tudo sendo um grande bloco, por isso o prefixo “supra”.

Essas três forças ocorrem simultaneamente e manifestam entre si e você só tem noção da força passiva e neutra por causa da Gravidade Tonal, pois como foi dito, ela é quem demonstra a força de atração que uma Tônica gera.

Reconhecendo as Forças

Vamos utilizar este trecho da música Amor de Índio. Pela teoria tradicional, isto é, sistema tonal com seu campo harmônico você tem a tonalidade de Lá Maior sendo o A7M o primeiro grau e o D7M o quarto grau.

Você nem olha para a melodia, apenas para os acordes e, quem sabe, a armadura de clave. Isso não diz muita coisa, por isso que eu falo que o sistema tradicional só coloca uma tag no acorde, mas vamos ver como o Conceito nos faz compreender este trecho.

A gente ouve Lá maior pelo simples fato da melodia soar Lá maior em toda a sua duração, ou seja, a Tônica Lá está estabelecida pela melodia, teu ouvido reconhece essa Tônica Lá. No acorde temos A Lídio e D Lídio e a gente só ouve essa sonoridade flutuante no final da frase pelo simples fato do D Lídio estar abaixo de A Lídio.

Veja, aqui temos a força ativa movimentando as notas da melodia e os acordes. A força passiva também atua fazendo com que as notas da melodia sobre os acordes passem pela Escala Lídia de cada acorde. São duas Tônicas ocorrendo simultaneamente.

Já a força neutra faz com que a força ativa e passivam passem pela sua Tônica gerando um estado de reconciliação. Perceba que a sonoridade deste trecho não soa forte, pois não há dissonância e é exatamente isso que o Nível Supravertical demonstra, pois além da Tônica dos acordes que estão passando pela melodia, a melodia também possui uma Tônica, todo esse trecho, ou toda a frase está passando por uma única Tônica Lídia e essa Tônica é Ré e o motivo de você ouvir a Tônica Ré é pelo simples fato do nosso ouvido reconhecer a sua ressonância. Isso significa que A Lídio passa a ser uma organização de D Lídio Cromático e assim temos um grande centro tonal onde tudo passa pela Gravidade Tonal de D Lídio.

Não acredita? Olha o que acontece quando eu coloco um B/A no terceiro compasso.

Ou um G/A no terceiro compasso.

Não há D# em D Lídio, não há G em D Lídio, por isso você ouve uma sonoridade um pouco mais forte, pois essas notas são dissonâncias em D Lídio Cromático. Agora, você percebeu que o D7M no final da frase não mudou de sensação? A razão para isso é que a força neutra não cancela a Tônica Lá, ela ainda está gerando a força de atração, mas está passando pela Tônica Ré.

Eu acabei de te mostrar como as forças da natureza atuam na música sem falar nenhuma regra, apenas demonstrando as leis da natureza da música, ou seja, você acabou de ouvir três Tônicas simultaneamente e cada uma delas faz você ouvir de forma diferente, ou seja, você vai ter resposta para o que você ouve e não apenas colocar uma tag.

A Gravidade Tonal não é um sistema, o Conceito não é um sistema e nem um recurso ou técnica, é uma organização tonal onde o que determina o que ouvimos é a relação que os elementos tonais possuem uns com os outros e com uma única Escala Lídia Cromática.