A ideia de centro tonal que a harmonia funcional trabalha fica muito complexa quando fugimos das regras, isto é, começar e finalizar com o acorde da tônica. Isso faz com que tenhamos sempre a mesma sensação de ouvir a resolução na tônica, e acredite, tônica vai além do que você imagina.

Vamos pegar a introdução da música Viagem ao Fundo do Ego da banda Egotrip.

A introdução possui a seguinte progressão harmônica:

F G Am Em F G Em

F G Am Em F G

Agora vem a pergunta: Qual o tom dessa progressão?

Observe que a Em está sendo o acorde cadencial (acorde final) na maior parte do tempo, então temos a tonalidade de Em?

Mas temos o acorde de F, então não é mais tonal é modal, ou seja, estamos em Em frígio?

Veja, se você começa uma análise e a teoria tradicional te deixa com dúvidas logo na definição do tom da música é porque ela é falha nesse sentido, por isso muitos músicos acham complexo (e é complexo mesmo) o sistema tonal e modal.

Você não vai ter a resposta do que você está ouvindo questionando se é tonal ou modal, não mesmo, até porque se você definir o E sendo a tônica, então os graus terão uma relação intervalar com ele independente se for tonal ou modal, isto é, F vai ser o bII seja em Em natural/harmônico (empréstimo modal) ou em Em frígio.

Faz diferença saber se a música é tonal ou modal? Pra mim não, mas como o Conceito é puramente modal e te faz compreender melhor o tonal, então chamei este artigo de Modalismo Tonal.

No fundo, o que você deve se perguntar é:

Por que quando o fá é tocado ele dá uma sensação flutuante?

Por que quando o Em repousa eu sinto uma sonoridade forte em cadência?

Por que eu também sinto essa sonoridade forte em cadência (conclusão) quando o acorde para em G maior?

Por que eu sinto uma “movimentação pra cima” quando Am segue para Em?

O que é Tônica?

Tônica é a nota que gera uma força de atração e no Conceito Lídio Cromático temos uma Tônica Lídia Principal, a nota que gera uma força de atração colocando as demais em seu campo magnético. A Gravidade Tonal demonstra como as demais notas se distanciam dessa tônica e essa distância é que faz a gente reconhecer a sonoridade que um acorde gera quando muda para outro, pois no Conceito Lídio Cromático uma progressão de acordes é uma progressão de Escala Lídia (o acorde é a escala, lembra?)

Temos a movimentação para o lado direito (sustenidos ou movimento ascendente) e a movimentação para o lado esquerdo (bemóis ou movimento descendente) e ao definir uma Tônica Lídia Principal conseguimos compreender como uma progressão harmônica possui essa relação de distanciamento com ela.

Compreendendo a Progressão

Fazendo uma análise vertical, isto é, dos acordes, temos:

F que é F Lídio, é de lá que ele vem;

Am é relativo de C, ou seja, Am vem de C Lídio;

O mesmo serve para G/Em, isto é, G Lídio.

Ao analisarmos a progressão F G Am Em temos F Lídio subindo para G Lídio que desce para C Lídio que sobe para G Lídio e temos aqui a reposta para todas as perguntas feitas inicialmente, veja:

Por que quando o fá é tocado ele dá uma sensação flutuante?

Resposta – O movimento para o lado dos bemóis gera essa sonoridade característica.

Por que o quando o Em repousa eu sinto uma sonoridade forte em cadência?

Resposta – O movimento para o lado dos sustenidos cancela a Tônica Lídia anterior, por isso temos essa sensação de claridade, de sonoridade forte em cadência e isso reponde as demais perguntas:

Por que eu também sinto essa sonoridade forte em cadência quando o acorde para em G maior?

Por que eu sinto uma “movimentação pra cima” quando Am segue para Em?

Tônica Lídia Principal

No sistema temperado toda nota é tônica, pois a Gravidade Tonal só existe por causa da relação de quintas e a quinta é o primeiro intervalo harmônico que define uma tônica.

A Tônica Lídia Principal é a Tônica do centro de gravidade, todos os elementos tonais serão analisados com base na sua relação de distanciamento.

Com a harmonia funcional você aprende a resolver sempre no acorde da tônica, ou qualquer resolução feita com o V (quinto grau) transforma aquele acorde em tônica (tonicalização). O Conceito faz a gente pensar de forma mais ampla, pois a Gravidade Tonal demonstra a relação das demais tônicas com essa tônica principal, algo mais fácil de compreender todo do cromatismo e seus elementos tonais que a Monotonalidade de Schoenberg que é algo muito mais complexo.

Agora que você sabe o que está ocorrendo na verticalidade (origem dos acordes) e horizontalidade (movimentação harmônica), fica fácil definir uma Tônica Lídia Principal, pois você decide com base naquilo que você está ouvindo, veja:

Sendo Fá a Tônica Lídia Principal, então ele está abaixo de C e G, assim temos essa sonoridade flutuante ao passar ou estacionar nele (cadenciar), pois você está fazendo a movimentação para o lado dos bemóis.

Sendo G a Tônica Lídia Principal, então a sonoridade será sempre “pra cima”, clara, forte em cadência, pois tanto F Lídio quanto C Lídio estão abaixo de G Lídio.

Sendo C a Tônica Lídia Principal, então ele fica no meio da passagem, isto é, ele pode ter uma sonoridade forte em cadência se for estacionado pelo lado dos sustenidos (F Lídio resolvendo em C Lídio) ou uma sonoridade flutuante se for estacionado pelo lado dos bemóis (G Lídio resolvendo em C Lídio.

Veja, VOCÊ DECIDE quem é o centro de gravidade, o Conceito apenas demonstra as possibilidades daquilo que você está ouvindo e todas elas fazem sentido, o Conceito nunca deixa você sem resposta, já a harmonia funcional…

Mas qual é o objetivo disso? Simples, a Gravidade Tonal te mostra um mundo de possibilidades.

Uma Tônica Lídia contém todas as outras. Ao escolher F Lídio Cromático, por exemplo, eu tenho G Lídio e C Lídio dentro de F Lídio, ou seja, basta aplicar uma escala (F Lídio) que a Gravidade Tonal faz surgir a tonalidade na área de cadência, assim você tem os “modos gregos” surgindo na área de cadência. Simples assim!

Agora faz sentido o título deste artigo? Modalismo = Medidas, ou seja, escalas e acordes. Tonal tem relação com a tonalidade (sistema tonal = sistema de tonalidade maior/menor). Modalismo tonal = Cores em Movimento.

Experimente e ouça com atenção, pois o Conceito surgiu com base na percepção dos músicos. Aproveite e assista a aula abaixo, pois ela vai complementar o assunto abordado neste artigo.

Grande abraço e vejo você em sala de aula!