Neste artigo eu vou demonstrar como o Conceito Lídio Cromático com a Gravidade Tonal faz a gente compreender e ouvir música de uma forma completamente diferente.

No curso de Harmonia eu digo o seguinte:

“O que determina o som específico que ouvimos é a relação que os elementos tonais possuem uns com os outros…”

E com a Gravidade Tonal conseguimos perceber melhor a tonalidade, seja do acorde ou da melodia.

Antes de mais nada, utilize o cotonete, pois você vai colocar o seu ouvido para trabalhar hoje, ok?

Pense na música sendo uma paleta enorme de cores, pois a qualidade do acorde é uma cor, as alterações geram novas cores e por aí vai.

A tonalidade é uma característica ou qualidade de um tom. Verde é um tom, a tonalidade seria o verde escuro ou claro. Em música temos a tonalidade maior ou menor de um tom, seja uma tonalidade vertical (acorde) ou horizontal (melodia).

Vamos pegar a melodia da música Amazing Grace.

Esta melodia possui um tom e uma tonalidade, temos aqui Sol sendo o tom e a tonalidade é maior.

Harmonia Funcional x Conceito Lídio Cromático

Você é ensinado a formar acordes de uma devida escala e assim você diz se a música está na tonalidade maior ou menor. Não tem nada de errado nisso, mas dessa forma você foca em achar/reconhecer os acordes colocando uma tag neles (graus) fazendo com que você não ouça a melodia, muito menos o resultado geral do acorde ou progressão de acordes com a melodia e isso é harmonia musical.

O Conceito Lídio Cromático tem como base a Gravidade Tonal, uma organização natural da música onde as doze notas do sistema temperado estão organizadas em quintas gerando um grande campo gravitacional.

Todas as notas do sistema temperado são tônicas e você decide quem é a Tônica (Lídia) principal, assim conseguimos compreender a relação de distanciamento das notas da melodia sobre o acorde (Tônica Vertical) e de uma progressão harmônica.

Entre outras palavras, o Conceito Lídio Cromático é a única teoria musical que consegue separar os três planos da música e com isso conseguimos ouvir e compreender qualquer música de uma outra forma.

Tonalidades

Você percebeu que a melodia da música Amazing Grace está em Sol Maior, certo? Então Sol é a minha Tônica (Lídia) principal, isso significa que quanto mais distante dela, mais contrastante será a sonoridade geral (resultado da progressão sobre a melodia).

Campo Gravitacional com Sol sendo o Centro da Atração

Temos aqui a tonalidade da melodia que é sol maior e os acordes irão colorir essa melodia que já possui uma cor.

Pela harmonia funcional teríamos aqui acordes do campo harmônico de Sol Maior. Estamos começando com a tônica (G7M) e terminando com ela, ou seja, está 100% confirmado a tonalidade de Sol Maior, mas com o Conceito Lídio Cromático você vai além, veja:

Você ouve três planos, são eles:

Plano da melodia = melodia em sol maior;

Plano dos acordes = tonalidades verticais (qualidade dos acordes);

Plano do Centro Tonal = resultado sonoro da soma dos dois elementos acima.

O acorde de C7M (C Lídio) está uma quinta de distância de G7M (G Lídio). Ouça novamente o exemplo acima e observe como o C7M soa flutuante.

Se eu pegar a mesma progressão e transpor uma quinta justa descendente, terei esse efeito flutuante, pois meus acordes estão abaixo da tônica principal que é sol (Tônica Lídia estabelecida pela melodia).

Pela harmonia funcional você iria analisar isso tudo sendo C maior, e está tudo bem, você ouve o acorde de dó maior na finalização, mas você acabou de observar que não soa tão conclusivo ao chegar no acorde de C maior e a razão é simples, a melodia está em sol maior, ela está estabelecendo a Tônica Principal deste trecho, sol é o centro de atração da gravidade.

Você está ouvindo:

1 – A tonalidade da melodia (sol maior);

2 – Os acordes colorindo uma melodia que já possui a sua própria cor;

3 – O resultado desta soma é essa sonoridade flutuante, pois todos os acordes estão abaixo da tônica sol.

Se eu descer mais uma quinta, essa sonoridade flutuante continua, porém mais intensa, pois eu estou mais distante da tônica sol.

Pela harmonia funcional você iria analisar tudo isso sendo F maior, pois temos uma cadência plagal e está tudo bem, você ouve a finalização no acorde de F maior, mas não tão conclusiva quanto C e principalmente G. Veja, você não iria analisar a melodia, mas iria estabelecer a tonalidade de F Maior apenas pela harmonia e o pior, você ficaria na dúvida se fosse modal ou tonal, pois tem um si natural na melodia e finaliza com o acorde de Bb maior. Bom, nessa altura do campeonato, você já deve ter percebido que o campo harmônico não vai te ajudar a compreender o que você está ouvindo, pois você está ouvindo tudo junto e misturado (tonal e modal) e quando rompemos a ideia de sistema tonal e modal e passamos a separar os planos, como vertical (acorde) e horizontal (melodia e chegada em um devido acorde) conseguimos reconhecer diversas tonalidades ocorrendo ao mesmo tempo na dimensão musical.

Bom, para terminar este artigo vou pegar a mesma progressão de acordes e colocar uma quinta justa acima da tônica sol e você vai perceber uma sonoridade completamente diferente da flutuante.

Você consegue explicar o que você acabou de ouvir?

Veja como a teoria tradicional deixa você surdo e cego.

Você iria analisar ela sendo Ré maior e, novamente, iria ignorar completamente a tonalidade da melodia, pois estas mesmas notas estão presentes na escala de Ré maior, mas você foi educado a fazer análise dos acordes e não da melodia. Erro gravíssimo da harmonia funcional.

“Mas Michael, eu também ouço ré maior!”

Lembra que eu falei…

“O que determina o som específico que ouvimos é a relação que os elementos tonais possuem uns com os outros…”

Quando caminhamos pelo lado direito da gravidade tonal, isto é, o lado dos sustenidos, temos a Tônica Lídia cancelada. Ao terminarmos com o acorde de D7M, estamos cancelando a Tônica Lídia sol e sem falar que a nota final da melodia é ré, por isso você ouve sendo a tonalidade de Ré maior e é por isso que você não ouve a uma sonoridade fortemente conclusiva ao finalizar no acorde de Dó maior e Fá maior, pois a tônica lídia (sol) fica retida quando estamos caminhando para o lado dos bemóis e isso a harmonia funcional não diz.

Então, você ainda acha que o Conceito Lídio Cromático é mais do mesmo? E eu só mencionei a ponta do iceberg que este Conceito oferece.

Somente com a Gravidade Tonal você consegue compreender qualquer música no sistema temperado, incluindo a música serial/atonal. Assista a aula abaixo, ela vai complementar o assunto abordado aqui.

Grande abraço e vejo você em sala de aula.